Thursday, November 30, 2006

o diabo na rua...

que mais não fui
porque não tinha
que mais não serei
porque não ser
sonhos por querer
por vir no horizonte
não chega nunca
forro de vontade
alma pesada vôo
boca presa no tempo
vontade

Monday, November 27, 2006

nonada

a cada dia que passa
invento um verso
ou mais não sei
fica o cansaço
permanente cansaço
da memória do verso
noite estranha
insonia cor da lua
nova fase afinal
de tudo que se renova
e reinventa a cada dia
ver surgir a manhã
entre os dedos
tudo que dói
tudo que cansa
tudo que sonha
acordado
dormindo é qualquer
que sonha fácil
dormindo é amanhã
talvez nunca
caminho da morte

travessia

Monday, November 20, 2006

buen ayre

ainda ontem
eu andava pela recoleta
fazia um pouco de frio
e as pessoas faziam cara de portenhas
eu também

borges não estava na mesa na biela
cortazar, que não gostava de domingos,
também não apareceu

dos gêmeos
até dos gêmeos
só tinha um
qual deles não sei

mas eu já voltei para o brasil
quatro horas da manhã
para minha insônia

congestionamento do tráfego interno

mau tempo e excesso de tráfego
atrasaram hoje 43% dos meus vôos de imaginação
dos meus projetos secretos
quase não tenho mais sonhos
não tenho como decolar
nem como aterrizar
minhas torres de controle congestionadas
meus controladores de vôo
em licença médica eterna
só fazem provocar acidentes

piloto automático, por favor
seja o que deus quiser

Friday, October 27, 2006

saco 2

Não adianta mais.
Encheu o saco.
Não adianta insistir.
Acabou.
O tempo passou, Bandeira passou,
Quintana encheu.
Não dá mais.
Não quero mais,
não penso mais,
acima de tudo,
não trabalho mais.
daqui pra frente,
merda para todo mundo.

As paisagens se repetem
nas mesmas janelas cansadas
de trens lentos de vozes roucas
que se enrolam pelas planícies e
em torno de rios preguiçosos
e é tudo muito feio, muito chato,
como Raul, eu acho tudo isso um saco.
O mundo é feio.
Com raras exceções
as pessoas são feias,
eu sou feio,
você, que me lê,
provavelmente é feio ou feia, ou ambos...

Chato e agressivo é a mãe!

Friday, October 06, 2006

tgif

É possível que seja hoje,
uma sexta feira,
o dia do perdão
ou do juízo final.

Shabat Shalom.

Voltas em torno da mesa,
música de sonho,
de luz, e vozes e tudo.
é possível que se revele
neste moento
o novo sonho da sexta-feira.

A paz do sábado.

Que já começou,
a tarde caiu, o sol se foi
e a lua chegou devagar,
cheia de brilhos e nuvens.
Hoje já é amanhã.

A paz de ser e de não ser.

Suave brisa, movimentos
dos barcos, das folhas,
vozes distantes,
esperanças,
acima de tudo,
esperanças.

Shabat shalom.

Levanta,
põe a mão sobre o ombro
da sombra que ainda
não revelou-se totalmente.
Respira fundo.

Espera até amanhã.

Monday, September 11, 2006

capítulo das negativas

Não fui o grande poeta brasileiro
da geração de sessenta,
no máximo fiquei entre os trinta
de São Paulo...
Não fiquei rico,
não tenho automóvel.


Meu patrimônio resume-se a um computador,
livros, muitos livros, sonhos.

Não sou famoso,
porque moro numa cidade pequena,
as pessoas me reconhcem na rua,
se não, nem isso.

E eu tinha tudo para ser famoso!

Não fui o grande intelecutal
da minha geração,
aliás, geração perdida.

Não tenho casa,
nem casa na praia,
nem casa no campo.

Diferentemente de Brás Cubas, porém,
tive filhos.

Transmiti a eles e seus filhos
o legado do nosso sonho.

Monday, September 04, 2006

je suis comme je suis

Há muitos anos, meu amigo e poeta Carlos Felipe Moisés, disse que eu era um poeta menor porque me espelhava num poeta menor, Jacques Prévert... Bobão, o Carlos Fila, como o chamava o Piva. Tudo isso porque este título é o começo de um poema de Prévert... Ah! o gosto pela reticência... A ingenuidade teimosa. A preguiça de ficar recriando os poemas, que já vêm prontos, puxa! Agora então que o mundo descobriu que Quintana é o maior, nem se fala mais em apuro formal, coisa boba. Com raras exceções, acho João Cabral tão chato!

Eu sou assim, confuso e assistemático,
cansado o tempo todo, correndo,
preguiçoso.

E ninguém tem nada a ver com isso.

Combinado?

Wednesday, August 23, 2006

saco

às vezes, o meu silêncio
me cansa

outras vezes
o meu silêncio me acalma

quando eu fico nervoso
sinto sono

canto quando me acalmo

choro quando me alegro

sofro quando me liberto
da cama todas as manhãs
carregando comigo
a lembrança de todos os pesadelos

escrevo para acordar e para dormir
canto para não dormir
ando pela rua sem destino
para achar o caminho
sempre me perco
mas me reencontro

sou verde do lado de fora
e violeta do lado de dentro
colorido, florido, tristalegre

contraditório, saco...

Tuesday, August 15, 2006

quintana, revisited

A vida é como uma coceira no meio das costas.
Às vezes você não alcança.
Às vezes o braço dói.
Às vezes não coça.

Thursday, August 10, 2006

de todos

por todos los que pasé
por todos los que dejé
algunos que olvidé
por la carretera de la vida

de todos los que amé y odié
me supongo hermano y padre
me siento cerca y lejos

mis sueños de lejos
las voces der sur y norte

las respuestas y sus preguntas
me siento amigo y enemigo
de todos

Tuesday, August 08, 2006

jules et jim

faut pas attendre
faut pas partir
jour et nuit
revenir
ruisselant
une fois encore


la voix la peau
soleil la mer
connue
reconnue
continue

mois je suis toujours celà
qui reviens sans avoir jamais
parti

partir
pour jamais revenir

Tuesday, August 01, 2006

"mes amis, mes amours, mes emmerdes" charles aznavour

laundry lists
a voz do tempo
canções de aznavour
brel brassens porter
enough
mulher
filhos
netos
pai
mãe e filho, mortos
minha casa
meus amigos
algumas pessoas especiais
alguns versos especiais
alguns lugares especiais
londres
paris
aqui mesmo

mes emerdes

Monday, July 31, 2006

encruzilhada

desculpe,
não sei,
não quero,
não posso.
a luz da noite
me fere os olhos,
me acorda,
e depois
eu não posso mais dormir.
nem quero.
possivelmente
outras vozes contarão
outras histórias.
não eu,
eu não conto mais nada,
eu estou cansado,
e eu quero ficar quieto,
num lugar sem sons
e sem luz.
as costas dóem.

até estes versos
me cansam...

Saturday, July 15, 2006

pneumonia

Recolha-se.
Encolha-se.

No fundo,
você encontrará
seu único amigo.

Olhos cansados,
febris,
o único amor possível.
Porque o verdadeiro amor
depende do conhecimento.

Narciso de sinal trocado,
narciso lúcido e verdadeiro,
espelho real,
espelho manoelbandeira,
espelho marioquintana.
Não mais o narciso das ilusões,
o narciso de verdade.
Verdadeiro amor.

Um quarto escuro,
uma cama macia,
mozart ou jacques brél.

É tudo que você precisa
para ser feliz...

Thursday, June 29, 2006

who knows?

Quem sabe por que estou tão triste?
Quem faz as perguntas que não respondo?
Qume se esconde sob os tapetes das salas?
Quem chora, em silêncio?
Quem mente, quem diz a verdade
e foge correndo, olhando para trás?
Quem sou eu?
Quem é você?

ode contínua

Escrevo.
Continuamente.
Todos os dias.
Escrevo como quem morre.
Como quem chora.
Como quem goza.
Como quem ama.
Como quem sorri o tempo todo,
bobo.
Escrevo. de tudo e de todos. De sempre.
Porque escrevo, escrevo,
continuamente,
apolo e dionísio. Luz e sombra.
Cada poema é uma lágrima,
um sorriso,
um sonho de amor, continuamente
escrevo.
O tempo todo.
Dia e noite.
Só assim posso suportar
esta imensa,
continua,
pesada,
minha
vontade de escrever.
Por isso, escrevo.

Friday, June 23, 2006

b as in bondage

Não consigo mais suportar
esta servidão, escravo
de mim mesmo, solidão.
Senzala escura, tédio,
vontade de gritar, luz
no fim do túnel, servidão.
Um horizonte estrangeiro,
uma língua estranha,
vozes do oriente, vermelho
púrpura, cor e voz zen,
silêncio zen, amarras.
Este sorriso permanente,
esta cor, permanente,
esta mesma poesia, há séculos
presa no peito, o grito.
Sabe, de vez em quando,
cansa.

Wednesday, June 21, 2006

monthy phyton

I'm not dead yet.
Ainda tenho espasmos do lado esquerdo,
leves, espaçados, silenciosos.
Ainda acordo cheio de suores
no meio da noite, sem sono,
esperando... Godot, talvez.

I'm not dead yet.
Um rosto estranho me espreita
atrás de todas as portas,
escondido por véus multicores
que ainda não são a treva,
ainda não morri.

I'm not dead yet.
Tenho fome, vontade de chorar
e desejo sexual. Quando chove
uso guarda-chuva,
mortos não falam.


Amanhã uma nova luz
procurará por mim,
ainda não em vão...

Friday, June 16, 2006

thomas again

Thomas, again.
Let's go dance,
round the table,
round the floor.

Sounds of violins,
murmurs of water,
rain through the night,
all day long, Thomas,
again, and again,
all through the day,
and all night long.

Be good, feel good,
good night, Thommy,
my dear...

friends

Play ball in the park,
look around, in silence,
walk down Portobello road,
in the heat of a summer
that will never end,
read poetry.

Miss you, be well...

Wednesday, June 14, 2006

back in town

Não mudou nada.

As ruas continuam cheias de gente vazia,
o movimento dos barcos continua lento
no horizonte cristalino, azul,
não chove.

Wednesday, May 24, 2006

for thomas

To be a kind of poet...
TO WRITE THINGS.
ALONE,
IN THE SILENCE
of your bedroom.

You've choosen this destiny.

Nobody gave it to you.
Pernhaps some genes of your
grandfather, that's me!

So, relax,
and offer to me your next poem.

And, never forget,
write it all alone
in the silence of your bedroom.

This somebody gave it to you.

Pernhaps this man
alone in the dark
like you.

Your grandfather, and that is

ME...

never forget you

Para sempre.
Nunca.
Ni toujours, ni jamais.
Coisas que não se falam.
Que se vivem
no interior das rochas,
no fundo das grotas.
No silêncio das noites,
nas madrugadas sem sono,
sem sonho.
Sonhos sem volta,
mas eu volto.
Volto sempre,
canto sempre.
Ofereço sempre
a outra face.
Eu sou assim.

E não é assim que você gosta?

Saturday, May 20, 2006

espelho


Olha para mim.
Eu sou o teu espelho.
Sou a tua angústia,
tuas dúvidas
mais do que tuas soluções.

Não pense que este olhar
te olha com promessas de soluções.
Eu trago promessas de dúvidas.
trago frio e horizontes enevoados.
Trago lágrimas.



Sou uma espécie de espelho,
sem nenhuma distorsão.

Eu sou a verdade.





























Friday, May 19, 2006

solidão

Você, de repente, percebe que está só.
Que nunca em sua vida, nunca esteve senão, só.
Que nasceu só,
que passou sua infância só, na casa vazia,
e que, mesmo hoje, cercado de gente,
cheio de amigos, filhos, netos etc,
continua só. Irremediavelmente só.
E o que é pior, isso não tem a menor importância.
Porque a solidão não é coisa que se pense:
é bom, é mau, é assim, é assado.
A solidão é, simplesmente.


Como quando você acorda no meio da noite
e todos os outros estão dormindo.

Wednesday, May 17, 2006

beyond therapy

Calma.
Não adianta mais.
Coisas passaram,
assim, foram e vieram.
Acabou,
não tem mais jeito.

As flores florescem,
as árvores arvorecem,
a vida, vida-se,
e não, vive-se.

Percebe que tudo isso
é quase nada?
Que é muito perto
de quase tudo...
Que afinal é a confusão
de todas as nossas cabeças.

A única resposta
é não haver resposta.
Por isso, cara,
APROVEITE AS PERGUNTAS!

Tuesday, May 16, 2006

Instruções para os participantes da excursão

Traga uma roupa confortável.
A jornada será longa.
Uma roupa que não amasse muito,
posições estranhas serão exigidas,
muitas vezes.
Traga o corpo, bem preparado,
bem cuidado. Mas não se esqueça
da alma,
de preferência pura
e cheia de amor.
Não precisa trazer comida,
lá tem, de boa qualidade,
para quem puder pagar.
Traga muitos sapatos,
pode ter que andar muito,
meias grossas e quentes,
um bom livro
para as noites solitárias,
que serão muitas.
Traga também uma boa faca,
para descascar abacaxis,
lenços para enxugar lágrimas,
muitos porta-retratos,
para não esquecer
os que se perderem
ao longo do caminho.


Traga também um caixão,
de madeira, confortável,
do seu tamanho.
No fim, você vai precisar dele.

vurria

Digamos, que houvesse
um pequeno regato
nos fundos da casa.

E que a gente pudesse
ir lá beber água fresca
quando tivesse sede,
pois que a água fosse limpa.

Digamos que isso fosse
no fundo de uma casa
que precisa ser solene
mas não pode ser grande,
muita parede branca,
muita coisa verde,
e panos coloridos espalhados.

Digamos que tudo isso
seja no meio do mato,
mas perto da praia,
de maneira a ouvir
o barulho do mar.
Para que a gente,
quando sentir calor
possa ir até o mar
e refrescar o corpo e a alma.

Digamos que haja muitos livros,
mas não precisa de computador,
televisão, e principalmente
telefone celular, mas que tenha rádio
e que tenha discos, aqueles mesmos,
elis, brubeck, gardel, ella, billie,
chico, vinicius, willie, evans,
jobim, milton, mozart, maller,
puccini, bach, ravel, por aí...

Digamos que estejamos todos juntos,
e que as crianças de vez em quando
venham nos visitar, alegres.
E que a gente prepare um peixe assado,
recheado com farofa de lula.

E que um dia a gente morra em paz,
e sem dor.

p.s. vurria, em dialeto napolitano, quer dizer "queria".

Monday, May 15, 2006

caminhada

Caminho inclinado para a frente,
desde pequeno, e depressa.
Clara indicação de uma constante,
íntima ansiedade. Depressa.

Muitas vezes canto alto,
ou pior, falo sozinho,
enquanto caminho,
inclinado para a frente e depressa.

Assobio, também, outras vezes.
Olho muito em volta,
presto muita atenção ao que vejo,
e nunca esqueço um caminho.

As mãos balançam ao lado do corpo,
ou vão nos bolsos, enterradas,
pois não gosto de carregar coisas,
enquanto caminho, caminho muito.

Muitas vezes, aliás, eu quase corro,
até pulo, alegre, gosto de caminhar.
Sempre inclinado para frente,
com minha cara menino
e minha permanente,
insistente e doce
vontade de chorar.

Saturday, May 13, 2006

silêncio

Já é noite, cerrada noite,
aprendi um pouco
sobre a vida e a morte.
Canso-me agora
não fisicamente,
mas é uma espécie de sono,
que ainda não é a treva.
Borges.

Friday, May 12, 2006

three o'clock

Nunca é tarde,
a voz que arde,
como quem parte
das nuvens,
lua cheia,
buda's day.
Buda's night.
luz sobre a lama.
Lama.
Profundas meditações,
vozes continuamente
suspiradas.
Respiração cadenciada.

zazen
silêncio
quase morte
vida

metade foi ontem
o resto não será nunca

só resta uma lembrança,
algo como o último
penúltimo amor

cansaço

Wednesday, May 10, 2006

QUINTANA´S WORLD

Eu queria comprar um carrinho colorido,
desses que tem nos anúncios de televisão
e que conseguem chegar nos lugares mais incríveis.

Montanhas verdes e precipícios,
rios cheios de corredeiras,
praias de moças peladas,
estradas de terra lamacentas,
mas que no fim tem sempre
uma fonte de água fresca.

Eu queria comprar um carrinho colorido
que me levasse com meu filho
para uma praia deserta.
E que a gente pegasse onda,
comesse peixe frito,
e tomasse água gelada.

Mas veja,
não tenho dinheiro
para comprar o carrinho,
não tenho mais saco
para fazer coisas novas,
e meu filho morreu.

Tuesday, May 09, 2006

parece

mas não é, é mais
parece
um pedaço de ouro
no chão
ouro não dói
pois não é


parece
reaparece

nunca mais

Monday, May 08, 2006

paciência

Cachimbo.
Ardência,
na língua,
nos olhos,
ardência
na alma.
O apito do guarda
na rua.
Banalidades,
árduo caminho
da poesia.
Único caminho
da poesia.
Longo caminho
da vida,
mesmo caminho
da morte.
Lento caminho,
único caminho
da verdade.
Verdade.
Repetições
à maneira de Gertrude Stein.
É a repetição
que eu amo.
Repetir
é o que estou amando.
Armando
quebra-cabeças,
como som da novela
ao longe
na televisão,
insônia.
O sono que não virá
antes da madrugada.
Meras descrições.
Sorrisos,
sorvetes
que derretem.
Acontecências.
Repetições, coisas
do velho poeta.
Da eterna poesia.
Finais inesperados.
Silêncio,
intervalos de sons.
Luzes na noite.
SAUDADES.
Saudades.
Mãos que se abanam
no blog colorido.
Noite. Boa noite.
Boa noite...

sete e quinze

Os olhos pesam...
As costas dóem.
Saudades de casa,
vontade de tomar umas,
conversar
com pessoas especiais.
Escrever segredos
no computador cansado.
Ouvir músicas estranhas...
Thjis Van Leer.
Sorrisos.
luzes.
Mar ao longe.
Perto de tudo
longe de tudo é nunca.
]
é longe,

Sunday, May 07, 2006

boca

é tarde
tarde da noite
eu não posso
não consigo mais respirar
boca fechada no tempo
peito fechado
mão fechada
luz acesa
coração apagado
sonhos
sonhos
sonhos

boca
lentamente
sem sons

pensa um pouco
como dói

Thursday, May 04, 2006

invitation to dance

view me
excite me
invite me

stroll me down kgnithsbridge
in a mild summer day

call me a name
that is not mine
forget me

paint my neck
with bright oriental collors
like rugs
like zen red

like a summer evening
in hamstead heath
like hell
like heaven
iron me
despite me

love me

blogabóbora

Cansativo, isso, de tecnologia.
A gente fica disponível,
dia e noite,
pior do que exposto nas livrarias
como reclamava Drummond.
As pessoas entram na gente,
comentam, nos acrescentam,
nos adicionam aos seus favoritos,
como os reis de antigamente
que faziam seus favoritos
sem nenhuma cerimônia.
A gente é aberto,
a qualquer hora do dia e da noite,
e nem fica sabendo,
olha que coisa louca.
Como se a gente fosse uma abóbora,
mas uma abóbora eletrônica.
Porque abóbora, ora, não lhe interessa,
porque eu gosto de abóbora,
é sonoro, musical, abóbora.

Digital, eletrônico, virtual,
tudo isso, menos que isso,
até o amor virtual
acontece mais do que o real,
o real, acontece?
Somos todos, no fundo,
abóboras digitais.

Saco!

Tuesday, May 02, 2006

dezoito

Onde você se esconde?
Onde mora esta dor oculta
que eu não entendo mais,
há muito tempo.
Em que volta do tempo
ficou perdida esta hipótese
de um dia ser feliz?
De alguma forma,
em algum lugar.
Como você se chama?
de que lado repousa esta mão
que escreve, soluça, sonha,
esta mão suave
que pesa todas as noites
sobre minha cabeça.
Quem é você?
Quem sou eu?

Friday, April 28, 2006

out of the tree of life

Da árvore da vida
acabo de colher uma nêspera.
Tão feinho em português...


Out of the tree of life
I just picked me a plum.
Leia isto em voz alta
e veja como é linda
a língua inglesa.
E a gente, os poetas,
por obrigação auto-imposta,
que todas são,
temos que fazer o portugês soar bonito.
Pessoa ou Vinicius, gênios disso.


De repente do riso fêz-se o pranto
silencioso e branco como a bruma.
Lindo, rascante, nunca musical
como o verso fluido inglês.


Você que conhece meus medos,
meus suores noturnos,
minhas fraquezas.
Você que entende e respeita
meus longos silêncios
e meus grandes barulhos,
veja como esta língua
que amamos é linda.


Última flor do Lácio,
inculta e bela,
és a um tempo esplendor e sepultura.


Não conta prá ninguém,
mas eu acho que os poetas velhinhos
ficam tão melhores!
Até morrerem.
E aí, segundo alguns,
ficam melhores ainda.

only the lonely

boa noite.
sensibilidade
à flor da pele.
ansiedade
no meio do peito
como se escorresse um mel,
mel amargo e doce,
vontade de chorar,
um imenso sorriso,
ao mesmo tempo.
boa noite.
uma distante luz.

boa noite.
só a luz do computador
ilumina o coração solitário,
sons da noite na cidade,
musicas variadas distantes.
uma discreta ansiedade,
como se dos cabelos escorresse
um outro mel,
pelo meio das costas.
até o fim do mundo.
pelo resto da vida.
boa noite.

Thursday, April 20, 2006

frankie, again

aquela única verdade
mentirosa
suave
o sorriso no lado esquerdo
do rosto
cheio da cicatrizes da vida
velhos olhos azuis
cabelos esparsos
aquela mentira
verdadeira
a voz
a minha voz
encolhida ao longo
do corpo outrora magro

outrora
que coisa antiga
outra vez!

esqueça-se de mim...

only the lonely

Eu me vejo sempre
no fundo do bar,
na última mesa,
com cara de Frank Sinatra.
Apenas um coração solitário.

Bebendo devagar,
chorando baixinho,
melodramático como um poema
de Mário Quintana.

Solitário
como ninguém sabe que eu sou.

Cansado.

olhos (quase sempre)azuis

Fechei as pálpebras
e tatuei meus olhos sobre elas.
Ficou maneiro.

Minha namorada nem notou.

weather chanel

imagina se eu chovesse um dia
sobre a cidade
sobre o mundo,
sujeito a chuvas e trovoadas
imagina-me em pancadas esparsas
chovendo poesia sobre a vida.
como um céu de cúmulos e cirros.
imagina a vontade de chover
transformada em luz,
aquela luz molhada e transformada
de depois da própria chuva.
sonha.
chove.

Monday, April 17, 2006

mapa

existe uma curva
que fica para além da flor.
na volta da estrada embaixo da ponte
um bosque sutil.
mãos suadas.
canções tipo bossa nova.
lábios.
parece às vezes
que eu esqueci tudo e nunca,
nunca mais,
vou conseguir me lembrar de nada.
que bom!

Saturday, April 15, 2006

obladi oblada life goes on

As coisas são
inexplicáveis.

As coisas são
incompreensíveis.

Todos os dias ouvimos
perguntas

que não sabemos
responder.

E há malucos por

tentando entender.
E malucos piores
ainda

tentando explicar.

A vida continua,
inexplicável.

Wednesday, April 12, 2006

Para ser lido ao som de Eleanor Rigby

Porque ninguém lê o que eu escrevo.
Porque ninguém vê o rosto
que eu guardo numa jarra
perto da porta.
Porque ninguém me conhece,
esfinge,
eu mesmo quando olho no espelho
à vezes me pergunto
quem é esse cara?
Ninguém responde...
Barulho de disco antigo de vinil
rolando na vitrola.
Que coisa antiga!

A QUEM INTERESSAR POSSA - (um poema diferente)

A esta altura posso chegar a algumas conclusões definitivas em minha vida,
fruto da terapia, do trabalho zen e da poesia.
Tenho hoje absoluta consciência da minha genialidade.
Tenho uma inteligência superior,
um entendimento superior
e um conhecimento superior.
Sei também que essa genialidade não tem nenhum sentido prático
ou de consumo externo no mundo em que vivo.
É uma mercadoria de consumo interno,
que me faz profundamente feliz e rico
e não confere nenhuma honraria, orgulho ou vaidade.
Não implica em nenhum desejo de reconhecimento ou recompensa.
É esta inteligência também que me faz feliz,
capaz de suportar o sofrimento que, segundo o Buda, é inevitável.
Dou-me hoje ao luxo de relacionar-me amistosamente apenas com quem gosto.
Não preciso e não quero conviver e, principalmente confraternizar, com quem não aprecio,
com quem não tenha afinidade espiritual, intelectual ou afetiva.
Principalmente não desejo proximidade daqueles que não admiram e praticam a ética,
o amor ao saber e à amizade.
A prática, o conhecimento e o amor à arte consituem-se hoje em meu propósito de vida mais prático e objetivo,
a atividade de ensino e orientação a outros e a poesia minhas tarefas mais nobres e agradáveis, às quais me dedico e pretendo dedicar cada dia mais.
Parafraseando Pessoa como Alberto Caeiro,
sou um poeta da natureza.
Sou um intérprete e cantor do mundo.

Tuesday, April 11, 2006

Mistério

"...o mistério das coisas, onde esté ele...?" Pessoa como Alvaro de Campos


o mistério nos cerca em todas as avenidas em todos os quartos em todas as bocas o mistério é feito de sonhos e silêncios de sessões de psicanálise vontade de chorar cansaço essas coisas que pessoa escreve melhor do que você portanto não insista não encha o saco o mistério é bom é quente o mistério é a boca molhada que não se abriu no momento do beijo e que fica como uma recordação do que não aconteceu nem vai acontecer jamais o mistério porra é mistério entendeu?

Friday, April 07, 2006

não sei

o movimento das ondas
as voltas do tempo
o som do coração
a revelação
a vontade de chorar
o silêncio
a canção do horizonte
a mão vazia
a cor do som de um beijo
o abraço
a luz

não sei

Wednesday, April 05, 2006

Por que Father Mackenzie?
"... writing the words of a sermon that no one will hear..." John Lennon.
Ou, escrevendo as palavras de um sermão que ninguém lerá...
Entendeu?

vol de nuit

saint exupéry
como assim?
voando no escuro
sumindo no deserto
abrindo a cortina
do palco sem luz
aparecer um anjo
misterioso céu
que horas são?

luz

a janela aberta
porta
o vôo silencioso
de um estranho pássaro
vozes no quarto ao lado
preparações para a morte
cova

posso sentar?

Tuesday, March 28, 2006

Primeiro Poema

Escrevi um nome na areia da praia,
um nome amado, um nome de amor,
mas aí veio o mar e com toda sua fúria
apagou este nome da areia da praia.

Mas nem toda a fúria do mar desta vida
poderá apagar este nome querido,
este nome amado, este nome de amor,
da areia da praia do meu coração.

1956