Friday, April 28, 2006

out of the tree of life

Da árvore da vida
acabo de colher uma nêspera.
Tão feinho em português...


Out of the tree of life
I just picked me a plum.
Leia isto em voz alta
e veja como é linda
a língua inglesa.
E a gente, os poetas,
por obrigação auto-imposta,
que todas são,
temos que fazer o portugês soar bonito.
Pessoa ou Vinicius, gênios disso.


De repente do riso fêz-se o pranto
silencioso e branco como a bruma.
Lindo, rascante, nunca musical
como o verso fluido inglês.


Você que conhece meus medos,
meus suores noturnos,
minhas fraquezas.
Você que entende e respeita
meus longos silêncios
e meus grandes barulhos,
veja como esta língua
que amamos é linda.


Última flor do Lácio,
inculta e bela,
és a um tempo esplendor e sepultura.


Não conta prá ninguém,
mas eu acho que os poetas velhinhos
ficam tão melhores!
Até morrerem.
E aí, segundo alguns,
ficam melhores ainda.

only the lonely

boa noite.
sensibilidade
à flor da pele.
ansiedade
no meio do peito
como se escorresse um mel,
mel amargo e doce,
vontade de chorar,
um imenso sorriso,
ao mesmo tempo.
boa noite.
uma distante luz.

boa noite.
só a luz do computador
ilumina o coração solitário,
sons da noite na cidade,
musicas variadas distantes.
uma discreta ansiedade,
como se dos cabelos escorresse
um outro mel,
pelo meio das costas.
até o fim do mundo.
pelo resto da vida.
boa noite.

Thursday, April 20, 2006

frankie, again

aquela única verdade
mentirosa
suave
o sorriso no lado esquerdo
do rosto
cheio da cicatrizes da vida
velhos olhos azuis
cabelos esparsos
aquela mentira
verdadeira
a voz
a minha voz
encolhida ao longo
do corpo outrora magro

outrora
que coisa antiga
outra vez!

esqueça-se de mim...

only the lonely

Eu me vejo sempre
no fundo do bar,
na última mesa,
com cara de Frank Sinatra.
Apenas um coração solitário.

Bebendo devagar,
chorando baixinho,
melodramático como um poema
de Mário Quintana.

Solitário
como ninguém sabe que eu sou.

Cansado.

olhos (quase sempre)azuis

Fechei as pálpebras
e tatuei meus olhos sobre elas.
Ficou maneiro.

Minha namorada nem notou.

weather chanel

imagina se eu chovesse um dia
sobre a cidade
sobre o mundo,
sujeito a chuvas e trovoadas
imagina-me em pancadas esparsas
chovendo poesia sobre a vida.
como um céu de cúmulos e cirros.
imagina a vontade de chover
transformada em luz,
aquela luz molhada e transformada
de depois da própria chuva.
sonha.
chove.

Monday, April 17, 2006

mapa

existe uma curva
que fica para além da flor.
na volta da estrada embaixo da ponte
um bosque sutil.
mãos suadas.
canções tipo bossa nova.
lábios.
parece às vezes
que eu esqueci tudo e nunca,
nunca mais,
vou conseguir me lembrar de nada.
que bom!

Saturday, April 15, 2006

obladi oblada life goes on

As coisas são
inexplicáveis.

As coisas são
incompreensíveis.

Todos os dias ouvimos
perguntas

que não sabemos
responder.

E há malucos por

tentando entender.
E malucos piores
ainda

tentando explicar.

A vida continua,
inexplicável.

Wednesday, April 12, 2006

Para ser lido ao som de Eleanor Rigby

Porque ninguém lê o que eu escrevo.
Porque ninguém vê o rosto
que eu guardo numa jarra
perto da porta.
Porque ninguém me conhece,
esfinge,
eu mesmo quando olho no espelho
à vezes me pergunto
quem é esse cara?
Ninguém responde...
Barulho de disco antigo de vinil
rolando na vitrola.
Que coisa antiga!

A QUEM INTERESSAR POSSA - (um poema diferente)

A esta altura posso chegar a algumas conclusões definitivas em minha vida,
fruto da terapia, do trabalho zen e da poesia.
Tenho hoje absoluta consciência da minha genialidade.
Tenho uma inteligência superior,
um entendimento superior
e um conhecimento superior.
Sei também que essa genialidade não tem nenhum sentido prático
ou de consumo externo no mundo em que vivo.
É uma mercadoria de consumo interno,
que me faz profundamente feliz e rico
e não confere nenhuma honraria, orgulho ou vaidade.
Não implica em nenhum desejo de reconhecimento ou recompensa.
É esta inteligência também que me faz feliz,
capaz de suportar o sofrimento que, segundo o Buda, é inevitável.
Dou-me hoje ao luxo de relacionar-me amistosamente apenas com quem gosto.
Não preciso e não quero conviver e, principalmente confraternizar, com quem não aprecio,
com quem não tenha afinidade espiritual, intelectual ou afetiva.
Principalmente não desejo proximidade daqueles que não admiram e praticam a ética,
o amor ao saber e à amizade.
A prática, o conhecimento e o amor à arte consituem-se hoje em meu propósito de vida mais prático e objetivo,
a atividade de ensino e orientação a outros e a poesia minhas tarefas mais nobres e agradáveis, às quais me dedico e pretendo dedicar cada dia mais.
Parafraseando Pessoa como Alberto Caeiro,
sou um poeta da natureza.
Sou um intérprete e cantor do mundo.

Tuesday, April 11, 2006

Mistério

"...o mistério das coisas, onde esté ele...?" Pessoa como Alvaro de Campos


o mistério nos cerca em todas as avenidas em todos os quartos em todas as bocas o mistério é feito de sonhos e silêncios de sessões de psicanálise vontade de chorar cansaço essas coisas que pessoa escreve melhor do que você portanto não insista não encha o saco o mistério é bom é quente o mistério é a boca molhada que não se abriu no momento do beijo e que fica como uma recordação do que não aconteceu nem vai acontecer jamais o mistério porra é mistério entendeu?

Friday, April 07, 2006

não sei

o movimento das ondas
as voltas do tempo
o som do coração
a revelação
a vontade de chorar
o silêncio
a canção do horizonte
a mão vazia
a cor do som de um beijo
o abraço
a luz

não sei

Wednesday, April 05, 2006

Por que Father Mackenzie?
"... writing the words of a sermon that no one will hear..." John Lennon.
Ou, escrevendo as palavras de um sermão que ninguém lerá...
Entendeu?

vol de nuit

saint exupéry
como assim?
voando no escuro
sumindo no deserto
abrindo a cortina
do palco sem luz
aparecer um anjo
misterioso céu
que horas são?

luz

a janela aberta
porta
o vôo silencioso
de um estranho pássaro
vozes no quarto ao lado
preparações para a morte
cova

posso sentar?