décio, pig (nat ) ari

suponha que nunca
ou então que sempre
prepare uma saída
uma espécie de luz
uma voz apagada
cansada molhada
perto da outra
que não se ouve
que não sabe ouvir
que conta e canta
que morre ofegante
e continua sempre
ou então que nunca
suponha que existam
universos paralelos
ou versos paralelos
por que não?

Contruir laboriosamente um novo caminho,
percorrer outras estradas, em outras línguas,
paciência, muita paciência, equilíbrio.

Olhando pela janela desta rua antiga e sonhando
com o novo que todavia não se revela ainda...
Mais magro, mais velho, mais cansado, mais tarde...
Talvez muito tarde.
Depois até do crepúsculo consentido, da luz apagada,
do sonho partido.

Nas ruas floridas de Madavale, filha e netos,
manhã ensolarada de quase primavera, muitas lembranças,
e alguns sofrimentros que passaram, cicatrizaram, outros não.
Coisas há que não cicatrizam nunca, dóem sempre
para o resto, resto, da vida, silenciosamente ou não.

A estação do metrô, o barulho dos trens, tudo símbolos.
Metáforas de antigos poemas, Eliot, Plat, e algumas frases
sublimes de Maughan.  E o sol brilhava...

um dia como todos
como tudo
indeciso
sai o sol ou não sai o sol?
faz frio ou não faz
o bom saber que todos estão vivos
embora dormindo
e eu acordo para um novo dia
uma nova semana

uma nova vida?

medite sempre
em todos os momentos
em todas as horas
trabalhando
dirigindo
andando na rua.

ah! andando na rua
nunca se esqueça
de olhar para os lados
ao atravessar a rua

 vida é assim...

tudo bem, desculpe,
pode falar.

desde que sejam palavras de amor.

é hoje
aqui de novo
porque não é bem cansaço
é só saco cheio
uma certa vontade de nunca
ou de nada
ou de qualquer coisa
ou sempre

paris ou londres,
talvez veneza.

o epitáfio?
aceito sugestões...

ando meio cansado
sabe como?
cansado
assim meio triste
bem, muita gente já esceveu isso
claro
pessoa, quintana, goulart, cabral etc
agora eu, tá?
alguma dúvida?

na situação em que estou,
por favor,
não encha o meu saco...

porque, entre outras coisas, dói.

tatica

usurpar a vontade
reinventar o sonho
adiar e conquistar
morrer, se for preciso
timidez não vale
a coragem, loucura

a invencibilidade está na defesa
a vitória, no ataque...

zohar

mundo de descobertas
todos os dias mistérios
revelações, surpresas
espíritos que roçam de leve
nossos corpos e nossas mãos
sonhos reais, tocáveis
uma espécie nova de fé
não na verdade
mas no mistério

sei que mereço
ganhei na luta
entre as árvores
no meio da floresta
matando e sendo morto
armas
qualquer uma
mas mereço
lutei muito

ainda luto

eu tenho metade
inteiro não
é sempre quase
nunca, às vezes
quase sempre metade

 

pai

Meu amigo.

meu melhor amigo

 mim ensinou-me tudo

cansou-se e foi-se

como sempre

silenciosa e elegantemente

não fiquei triste

fiquei só

um amigo
um irmão
meu velho pai
que começa
a despedir-se da luta

as armas no chão
despedaçadas
o semblante cansado
a voz que se apequena

adios nonino...

New Year

Pertenço a um mundo
que não existe mais,
e esqueci.

Sinto à vezes
uma espécie de saudades
do que não houve.

Revelo segredos
que todos conhecem,
canso-me muito.

Acordo angustiado
todas as madrugadas
como se fosse morrer.